sexta-feira, 25 de maio de 2012

Reflexões sobre a vaidade humana



:: Flávio Gikovate ::

Eu não pretendia escrever sobre este aspecto essencial do instinto sexual neste momento, mas alguns comentários a respeito do meu último texto (Alguns modos de ser das mulheres) me fizeram pensar sobre como a maior parte das pessoas continua a se deixar escravizar por este curioso ingrediente exibicionista. Exercemos o exibicionismo por todas as formas, desde a mais inofensiva, que é o de caráter físico, até a mais perigosa, que corresponde ao exibicionismo intelectual. O exibicionismo intelectual é o mais grave, porque nossa razão deveria estar a serviço de nos ajudar a ver a realidade como ela é e também a nos posicionar de forma adequada diante dos fatos.

Nossa vaidade nos leva a desenvolver certa aversão com relação aos acontecimentos, especialmente aqueles que não combinam com os que gostaríamos que fossem efetivamente. Passamos a brigar contra a realidade e a substituí-la por nossas idéias. Num determinado momento, passamos a acreditar que nossas idéias correspondem aos fatos.

Não importa muito como achamos que o mundo e as pessoas deveriam ser. Temos que nos ater ao que é. Não importa acharmos que o amor é que deve nortear as relações entre as pessoas e que a sexualidade deveria estar acoplada ao encontro de parceiros compatíveis e legais. Isso é o que alguns pretendem, mas não é o que todos querem e nem mesmo o que se observa na prática da vida.

O fato real é que muitas pessoas usam a palavra amor para encobrir seus interesses pessoais. A começar pelos mais egoístas, aqueles que não amam e que querem mesmo é serem amados (é sempre bom lembrar que eles correspondem a 50% ou mais da população). Não dizem que não amam; dizem que amam ao seu modo. Se for verdade que existem modos diferentes de amar, pode ser que tenham razão. Muitas vezes, quando são abandonados, dizem que estão sofrendo muito, que estão muito arrependidos, que estão sentindo muita falta e que nunca pensavam que fossem tão ligados sentimentalmente. Será isso verdade? Ou estão se colocando desta forma com o intuito de fazer forte chantagem sentimental? Estão sentindo falta do parceiro ou estão inconformados de terem perdido a boquinha (como ouvi certa vez de um paciente)?

E as moças que só têm relações sexuais em um contexto de compromisso sólido, são elas as mais amorosas? São as mais honestas ou são as que verdadeiramente sabem usar sua sensualidade para prender o homem? Não será verdade que a mulher mais honesta é aquela que não joga com seu poder sensual? Sendo assim, aquela que tem no sexo uma prática lúdica, que entende o sexo como uma simples troca de cosquinhas similar ao que acontece com as crianças e que tem relações com inúmeros amigos e mesmo parceiros ocasionais sem nenhuma pretensão de prender o homem por esta via, não será ela a mais honesta e pura? É pura a que se mantém virgem até o casamento ou a que não se incomoda de ter relações sexuais sem visar outro objetivo que não o dar e receber o prazer físico imediato?

Muitas questões e muito poucas respostas, a menos que se pretenda dar respostas prontas, aquelas que correspondem ao politicamente correto de hoje ou do passado. Os fatos são mais complicados do que as idéias. A palavra amor encobre muitas armadilhas e a mulher sexualmente livre pode ser a mais desprendida e a que joga menos. Mas nem sempre... A vida real é mais complexa do que isso e não pode ser decodificada de forma simples.

Da mesma forma, os homens: todos invejam o paquerador, aquele que consegue conquistar as mulheres com facilidade graças à boa aparência, ao carro de luxo ou à boa capacidade de iludir e contar mentiras românticas apenas com o intuito de levar para a cama uma moça menos esperta do que ele. É uma pena que seja assim, porque invejam o que há de pior, o homem que verdadeiramente se aproxima do mamífero incivilizado e que busca a intimidade com a fêmea a qualquer custo. Acontece que, depois que ejaculam, passam a ter o problema terrível de ver como é que farão para se livrarem daquela mulher que só interessava para aquele fim erótico e cuja conversa é, para eles, profundamente tediosa. Não vale a pena.

Os conquistadores assim bem sucedidos se exibem para os homens mais tímidos e recatados. Exercem sua vaidade se mostrando felizes e bem sucedidos. Levam uma vida chata e repetitiva, sempre vivenciando a primeira relação com uma mulher diferente; a verdade é que a primeira relação entre um homem e uma mulher é, como regra, a pior! Estão ambos um pouco inibidos (quando não bêbados) e exaustos. Aqueles que têm uma parceira fixa e que sempre têm relações com ela morrem de inveja dos que se exibem como garanhões e que só estão levando o que há de pior nas relações sexuais. Tudo vaidade...

A vaidade cega subtrai o bom senso, nos afasta da realidade e do que é possível para nós. A vaidade nos afasta da reflexão útil e nos leva a querer ganhar discussões. Não é este o meu objetivo, como de resto nunca foi este o meu modo de me posicionar perante os problemas da psicologia. Acho que nós deveríamos nos voltar para os fatos e tentar interpretá-los de todas as formas possíveis. Mas os fatos e não aquilo que gostaríamos que eles fossem.

sábado, 19 de maio de 2012

Sexo e política por Flávio Gikovate

 

Ao longo dos primeiros anos da chamada revolução sexual (1960 em diante) havia uma idéia clara de que a emancipação da sexualidade implicaria numa diminuição da competitividade entre as pessoas que, por isso mesmo, se tornariam mais doces e amistosas. Isto determinaria um clima social de cumplicidade e companheirismo ao invés das tensões próprias do capitalismo e da sociedade de consumo que estava nascendo. O resultado é mais que conhecido: o livre exercício da sexualidade, especialmente do exibicionismo feminino, provocou efeito exatamente oposto. Ou seja, os homens ficaram extremamente sensibilizados e estimulados pelo fato das moças se mostrarem mais atraentes e disponíveis para o sexo e partiram para uma disputa brutal para conseguirem o sucesso necessário para serem os eleitos das mais belas.
A busca por sucesso, fama e fortuna se agravou e o capitalismo competitivo e consumista se estabeleceu de uma forma plena. As moças passaram a se preocupar mais ainda com a aparência física – mesmo aquelas também empenhadas em desenvolver atividade profissional e independência econômica – e os homens, depois da luta por sucesso material, também têm se empenhado em aparecer como belos aos olhos das mulheres. O mundo se tornou mais do que nunca aristocrático, onde beleza e riqueza (prendas raras) são os ingredientes mais valiosos.
Na verdade, a única novidade mesmo é a preocupação masculina com a aparência física. Sim, porque a história da humanidade tem sido esta. Os homens buscam o destaque e o poder para poderem se apresentar e serem recebidos sexualmente pelas mulheres mais belas e atraentes, que são as mais cobiçadas por quase todos. As mulheres menos belas se sentem tristes, assim como os homens menos ricos. Estes fazem parte da imensa maioria da população e parece gastarem a vida sonhando com o dia – ou com a hipótese quase mágica – em que poderão fazer parte daquela elite que teria tudo o que se pode pretender desta vida. A mim me entristece ver de forma assim clara e um tanto banal as razões que levaram estas elites a criarem organizações sociais brutalmente desniveladas, onde a desigualdade impera. A tristeza é maior ainda quando percebo que a maioria da população, aquela composta pelos excluídos, apóia e compactua com estes pontos de vista. Ou seja, acham legal a injustiça e a desigualdade social derivarem de prendas inatas, especialmente a beleza física feminina. Acham legal que a beleza física valha mais que as virtudes de caráter. Enquanto pensarem assim é claro que o mundo continuará a caminhar na mesma direção que tem caminhado e tudo leva a crer que irá nos levar, em poucos anos, para o abismo.
Uma conclusão importante que podemos extrair destas últimas décadas é a seguinte: os autores que relacionaram a sexualidade com a política (Marcuse, Reich, Foucault entre outros) tinham razão. A forma como vivemos nossa sexualidade em uma dada sociedade não é, em absoluto, inofensiva. Não há ingenuidade em relação ao tema. Uma prática sexual que estimule o jogo de sedução e conquista, que valorize beleza e riqueza (propriedades aristocráticas) estará gerando uma população de infelizes e frustrados. Eles poderão continuar sonhando com o dia em que serão incluídos no clube dos privilegiados, mas poderão agir de outra forma. Imaginem se as mulheres, de repente, passarem a valorizar mais os moços bons, gentis, delicados e atenciosos com elas, parceiros e cúmplices (com gosto em ouvir sobre suas vidas ao invés de só gostarem de falar de si e de suas glórias). Isso teria um potencial revolucionário extraordinário, pois os homens, como sabemos, querem mesmo é fazer sucesso com as mulheres. Se elas passarem a valorizar propriedades mais dignas no lugar dos corpos sarados e muito dinheiro no bolso (independente da sua origem) estariam promovendo uma revolução moral, social, econômica e política!
Muitos pensadores contemporâneos vêm desenvolvendo esta idéia. Ou seja, pensam muito seriamente no fato de que se algo de muito relevante e revolucionário pode vir a acontecer nos próximos tempos deveremos sua introdução às mulheres. Elas detêm um poder social, econômico e político crescente. Elas são a maioria na maior parte das universidades. Elas poderão repetir os procedimentos masculinos ou contribuir de forma radical para que possamos voltar a sonhar com sociedades mais justas. O fato delas estarem desenvolvendo condições de auto-suficiência econômica criará condições para que as escolhas sentimentais possam ser menos voltadas para os tradicionais interesses materiais e mais relacionadas com a presença de um parceiro carinhoso e respeitoso. Se isto acontecer, estaremos no início de um novo mundo.
Acho também que para isso poder acontecer temos que superar o mais depressa possível esta fase em que a sexualidade desvinculada de relacionamentos representativos está fazendo a cabeça de um grande número de moças e rapazes, como se estivessem se lambuzando no melado (nunca houve tamanha facilidade nesta área como agora). Quanto a isso não me preocupo muito porque penso mesmo que se trata de uma fase e que os próprios rapazes cada vez mais estarão interessados mesmo é em relacionamentos mais estáveis, duradouros e nos quais se poderão construir bases para uma intimidade mais profunda e que tanto nos gratifica e aconchega.

sábado, 12 de maio de 2012

Por que os casamentos acabam não dando certo?



Flávio Gikovate -
                        Quase todos os casamentos hoje são assim: um é mais extrovertido, estourado, de gênio forte. É vaidoso e precisa sempre de elogios. O outro é mais discreto, mais manso, mais tolerante. Faz tudo para agradar o primeiro. Todo mundo conhece pelo menos meia-dúzia de casais assim, entre um egoísta e um generoso. O primeiro reclama muito e, assim, recebe muito mais do que dá. O segundo tem baixa auto-estima e está sempre disposto a servir o outro. Muitos homens egoístas fazem questão que a mulher generosa esteja do lado dele enquanto ele assiste na televisão os seus programas preferidos. Mulheres egoístas não aceitam que seus esposos joguem futebol. Consideram isso uma traição. De um jeito ou de outro, o generoso sempre precisa fazer concessões para agradar o egoísta, ou não brigar com ele. Em nome do amor, deixam sua individualidade em segundo plano. E a felicidade vai junto. O casamento, então, começa a desmoronar. Para os meus pacientes, eu sempre digo: se você tiver de escolher entre amor e individualidade, opte pelo segundo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Por que o mês de fevereiro tem 28 dias e os outros oscilam entre 30 e 31?

 

Nos últimos tempos da sua monarquia, por volta do século VI a.C., os romanos adotaram um calendário baseado nas mudanças de fase da Lua, com 355 dias distribuídos em 12 meses. O ano começava em março e terminava em janeiro, sendo que os meses tinham 29 ou 30 dias. Fevereiro, o décimo-primeiro mês, era considerado de mau agouro e ficou com apenas 28 dias. Mas, durante o Império, em 46 a.C., sob o governo de Júlio César, houve uma mudança significativa: o calendário passou a se basear no ciclo solar. Os meses, então, mudaram todos para 30 ou 31 dias, somando 365 no período de um ano. Nesse mesmo período, foi instituído o ano bissexto - mudança inspirada no calendário dos egípcios -, com um dia adicional a cada quatro anos. Em 44 a.C., no segundo ano de vigência do calendário juliano, o Senado decidiu homenagear o imperador e propôs que o mês Quintilis, com 31 dias, passasse a se chamar Julius (julho).
Três décadas depois, em 8 a.C., o nome do oitavo mês, Sextilis, foi mudado para Augustus (agosto), em honra ao então imperador César Augusto. Como um César não podia ter mais dias que o outro, agosto - que tinha originalmente 30 dias - ganhou mais um, retirado de fevereiro, que ficou com 28. Para manter o critério de alternância do calendário instituído por Júlio César, setembro passou para 30 dias e assim sucessivamente. Bem mais tarde, já no século XVI, o papa Gregório XIII inaugurou um novo calendário, corrigindo algumas distorções do sistema romano. Mas o calendário gregoriano, adotado até hoje pelo mundo cristão ocidental, não mexeu no número de dias de fevereiro.