sábado, 31 de dezembro de 2011

Afinidade de Arthur da Távola

Poesia Afinidade de Arthur da Távola



AFINIDADE

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.

É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois
que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples
e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Só entra em relação rica e saudável com o outro,
quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar,
não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade.
Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita
o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento de não afins, eis a guerra.

A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar,
por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,
veremos ou falaremos.

Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem
para buscar sintomas com pessoas distantes,
com amigos a quem não vemos, com amores latentes,
com irmãos do não vivido?

A afinidade é singular, discreta e independente,
porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu
o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação
exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas
nem pelas pessoas que as tem.

Por prescindir do tempo e ser a ele superior,
a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades
ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós,
para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,
porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.

Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois
encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir
restituir o clima afetivo de antes,
é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal.
Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta,
ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.
A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.
A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas,
plantios de resultado diverso.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quantos das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão do outro sob a forma ampliada e
refletida do eu individual aprimorado.
Arthur da Távola

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Minhas Amigas Virtuais...


A distância que numa amizade "real" pode torná-la árida,na amizade virtual ela se torna um orvalho que cai todo dia e  a irriga.Assim a árvore chamada amizade fica forte e frutífera.Seus galhos  longos  com suas folhas abundantes, servem de sombra  para nos refrescar diante das situações escaldantes  da vida. 
                Podemos morar  no mesmo estado, e  talvez nunca nos   encontrarmos.Esta  distância  não se torna  obstáculo para vivênciá-la  intensamente ! Se os  quilômetros de asfaltos  nos separam,o digitar de nossos dedos nos aproximam. O clique no teclado denuncia na  tela, a riqueza da alma que a digita. A alma do outro lado,vai revelando as qualidade mais intrínsecas do seu profundo ser...Revelação que mostra como a nossa espécie é cheia de gente especiais e encantadoras. 
                  Tenho a certeza que outras pessoas mereceriam serem incluídas.O problema que não teria como excluir nenhumas destas citadas.Usei como critérios a afinidade e o volume de tempo que usufrui delas rsrs... A partir do momento que quis limitar o número em sete.Sete é a perfeição no mundo bíblico. E a oitava  é  uma pequena lembrança de quem partiu tão cedo desta vida...
                          
                 Falarei de algumas amizades que fiz :
   @Beth_Amorim, Caicó/RN :
                                                 Aprendi a admirá-la  pela forma de enfrentar as tempestades da vida( que normalmente nos deixa prostrado, mas nela  serve para fortificá-la... ).Não se refugiando sobre a fragilidade dos clichês : " A vida é assim mesmo... " Como se esta afirmativa "cheia" de razão, esvaziasse a dor que corrói o coração...Ao contrário prefere,  expor a dor dilacerante  e  assim vai forjando com mais firmeza   o seu interior.A grandeza de sua personalidade ficou evidente  quando reencontrou  a felicidade.E aí  teve que enfrentar   o adversário mais vil que há na nossa espécie : Os invejosos.Como diz Van Goethe " ... a felicidade  é insuportável , para alguns A   mesquinhez de corações pequenos, pois , não cabe neles a felicidade de outros.Em Beth o simbolo da Fênix  foi expresso primeiro  em sua alma para depois ser registrada em seu corpo...Fiz de seu espaço "Tempestades de Ideia" um lugar de visita permanente e aonde cativei esta amizade valiosíssima...
 
    @ArianeNay, Santo Antônio /RN
 Sua força cativadora pude constantar  no dia de seu níver.A time line do tuite não parava de receber  elogiosas felicitações.Ela une a energia intensa da juventude, sempre   saindo com seu  círculo de amigos e se divertindo em vários eventos sociais.Ao mesmo tempo dedicada nos estudos.Este equilibrio entre  descontração com os amigos e concentração nos estudos prova que tem uma mente brilhante...e um futuro promissor.
 
@euAdrianaRocha, Mogi das Cruzes/SP
  Firmeza nas opiniões  e decisões que toma.Fala de suas convicções sempre com profundidade e com muitos argumentos.Seus textos   foge do senso comum ,tem uma visão perspicaz que nos ajuda a observar temas corriqueiros de um novo ângulo. Suas opiniões revela  suas convicções...Um coração eternamente grato ao pai e aos valores que deixou e os quais sob herdar...Mãe na essência da palavra..escritora ...E além disso  tudo muito gentil ...ainda me presentou com o livro "Eu te acompanho até  a cruz "
                          
 @nanamada, Rio De Janeiro/RJ
A conheci na campanha  presidencial de 2010.Surfando na onda vermelha.Sempre tirava  umas  penas  tucanas (rs) com suas criticas.Os  argumentos fácil e sólido ideologicamente, deixava a   estrela do Pt mais brilhante rs...Se as posições politicas nos aproximaram..A sua profissão (estudou licenciatura plena em artes visuais ) aprofundaram a admiração. No seu blog Arte, manhas, manias e amenidades  através de suas postagens tive acesso a artistas  e obras  que totalmente desconhecia. Obras valiosas,feitas por pessoas que mereciam melhor reconhecimento popular.Homens e mulheres que mostra o que a criatividade humana é capaz de produzir  de tão belo e eterno..  Esta  amizade me conduziu a  obras   grandiosas que o espírito humano é capaz de realizar.A riqueza do seu intelecto, ela distribui conosco  que formos empobrecidos por uma "cultura de massa"...
  
  @BSBJU, Brasília/DF
A sua oração foi o porto que algumas vezes a minha alma angustiada ancorou.Faz de sua devoção ao senhor Jesus  o alicerçe de sua fé cristã.Sensação de ser "zen" (rsrs).Sempre a imaginei calma, tranquila, serena e paciente ... (Pude comprovar num aúdio que  me enviou,aquela paz angelical...)No uso e costume tem uma visão evangélica conservadora...Defende sua ideia longe de parecer farisaica..mas sim trazendo luz sobre temas obscurecidos  pela   libertinagem...educada e muito gentil

   @BelatrizBrasil, Cascavel/PR
 Sinceridade e temperamento forte,são as duas características que contemplamos imediatamente .Frase longas  e intensas com momentos que nos avisa, que prefere a reclusão para ordenar a sua situação. Prefere sempre a convicção de suas opiniões do que a conveniência  de agradar ao interlocutor.Sua amizade nos educa a sermos maduro. Nos ensina a aprender a respeitar a individualidade...Se torna uma fera em  defesa dos animais.. ....A sua amizade não ha espaço para superficialidade ...Pode ser  dura  mas jamais sem perder a  ternura...Ainda é esquerdista!

    
 @Yram_esor78, Pendências /RN


Uma personalidade cheia de auto confiança,mas sem nenhuma presunção.Atitude que terá a admiração de quem gosta de pessoas autêntica e também despertará a inveja de quem não suporta ver alguém  tão independente em sua  filosofia  de vida...Transparente
 nas análises dos fatos que a envolve..,revela  o seu estado emocional de forma sincera. ..Compartilha de forma contagiante  a sua alegria conosco..Não usa máscara e mostra sua força  quando expõe  algo que não vai bem...Prefere mergulhar em si mesmo...prestativa...profissional da educação, não transmite conteúdo , e sim ferramentas para serem utilizadas na vida de seus discipulos...

 
   @mulheres sábias,Rio De Janeiro/RJ 

                                      Um pessoa gentil, tranquila ,familia....O seu blog revela a grandeza de sua personalidade e sua inteligência..Uma pessoa evangélica que pensa e tem ideias própria (convenhamos, coisa  rara no nosso  meio..)No blog expões sua visão de forma  corajosa... trata da pena de morte ao dizimo...Sai do lugar comum e tem compromisso com a verdade e não  com alienação..Na politica anti PT ( ou seja estamos em caminhos opostos rsrs) Esta divergência que poderia impedir ou interromper nossa amizade, pelo contrário serviu para consolidá-la.Qual a riqueza de conviver com alguém que pensa diametralmente oposto ? Descobrimos que a  estima  é mais valiosa do qualquer  preferência ideológica rs...Diria que esta amizade foi pedagógica..
             "A distância  faz a amizade aquilo que o vento  faz ao fogo: apaga o pequeno ,inflama o grande"  (Steeh)

Homenagem póstuma...
  
@Vane_fernandes  ,Caicó/RN

                                              No dia 18 de agosto respondi no  tuite , e  a chamei de "menina dos olhos de Deus".  No dia 04 de setembro ,Ela posta sobre um concurso às 14h, e  esta seria a sua última mensagem virtual.Não sei quantas coisas deve ter passado no seu pensamento, mas com certeza jamais imaginou que seria a última tuitada postada...A última vez , que seus dedos se comunicaria conosco.. e às 17h sai na sua traxx em direção a casa da Vó...Aquele caminho a estava levando para o caminho, que todos nós teremos que trilhar:A MORTE. Naquele domingo,ligo o computador e fico sabendo de um acidente, entre uma moto honda titan e uma motocicleta traxx,não sabia que era  conduzida por Vanessa.Sempre imaginamos  qualquer um e jamais em alguém conhecido.Não podia imagina que Vanessa era a vítima fatal.Em plena juventude e cheio de sonhos,  a sua existência nesta vida é interrompida de forma brusca e chocante...Até hj  crio uma ilusão que na time line  a qualquer momento irei ver um texto digitado por ela.....Não cheguei a criar um laço no mundo virtual ,mas sua morte prematura me tocou profundamente..Faço deste espaço sempre um tributo a juventude que se foi ,quando menos esperava...
                                              















































































sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Amor Versus Individualidade Por Flávio Gikovate

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Ao longo do segundo ano de vida a criança vivencia enorme avanço em suas competências: aprende a andar, a formular as primeiras frases, aprimora suas aptidões motoras etc. Se até então seu maior prazer era ficar no colo da mãe, usufruindo da paz e aconchego similar ao que foi perdido com o nascimento e sentindo por ela aquilo que chamamos de amor, agora ela gosta também de circular, especular o ambiente, tentar entender para que servem e como é que funcionam os objetos. Coloca quase tudo que encontra na boca, tenta sentir seu tato, observa o que acontece quando deixa que caiam no chão. Dá sinais de grande satisfação a cada nova descoberta. Está praticando os primeiros atos próprios de sua individualidade – e se deleitando com eles.
Tudo isso acontece na presença da mãe. Sim, porque se ela for para um outro local, a criança imediatamente abandona o que está fazendo e sai em disparada atrás dela. O mesmo acontece se levar um tombo: corre chorando de volta para o colo. Diante da dor física ou da iminência de distanciamento exagerado da mãe, a sensação de desamparo cresce muito rapidamente e aí torna-se absolutamente necessária a reaproximação. Há, pois, uma clara alternância de preferências: estando tudo em ordem, o que a criança quer é exercer os prazeres da sua individualidade em formação; ao menor desconforto, busca no aconchego materno (amor) o remédio para todas as dores.
Não há como não compararmos nossos comportamentos ditos adultos com o que acabei de descrever: queremos exercer nossa individualidade com a máxima liberdade, mas queremos voltar para casa e encontrar o parceiro à nossa espera. Ficamos bem longe da pessoa amada por algum tempo, mas depois o desejo maior é o de nos aconchegarmos; se isso não é possível, sentimos a dor forte correspondente à saudade (mistura de abandono com lembrança do calor que advém da companhia). Temos a nosso favor o benefício de um imaginário mais rico e a capacidade de nos comunicar à distância graças aos recursos tecnológicos: nos sentimos aconchegados, mesmo estando longe, graças às palavras e juras de amor.
No convívio íntimo, parece que queremos mesmo é encontrar uma fórmula capaz de conciliar amor e individualidade: quero, por exemplo, assistir ao programa de TV do meu interesse e quero que minha amada esteja ao meu lado, se possível bem agarradinha. Ela, também interessada no aconchego, poderá tentar achar graça, por exemplo, no jogo de futebol que tanto me encanta. Mas talvez não consiga e aí começam os problemas. Ela se afastará, indo em busca daqueles que são os seus reais interesses individuais. Eu me sentirei rejeitado, abandonado e mal amado; tentarei pressioná-la com o intuito de fazer com que volte. Ela, prejudicada em seus legítimos direitos, se revoltará e a briga (chamada de “briga normal dos casais”) será inevitável.
O homem é, ao mesmo tempo, a criança e a mãe. O mesmo vale para a mulher. Querem exercer sua individualidade, mas sem se afastar muito um do outro. Lutarão pelo poder, para definir quem irá impor o ritmo e a programação. Por maiores que sejam as afinidades, sempre irão existir atividades que são do interesse exclusivo de um dos membros do casal. A fórmula tradicional – homens mandam e mulheres obedecem – não funciona mais (felizmente).
O que fazer? Só há um jeito: o crescimento emocional de ambos para que a dependência típica do amor infantil se atenue. Que cada um consiga se sentir em condições de exercer suas atividades, de modo a liberar o parceiro para fazer o mesmo.

sábado, 3 de dezembro de 2011

O Desejo Sexual Acompanha a Agressividade Por Flávio Gikovate

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Foram interessantes e diversificadas as manifestações dos participantes do fórum. Parece que os homens não têm dúvidas sobre o poder sensual que as mulheres exercem sobre eles, e muitos acham que elas não são conscientes de sua força. Eu tenho dúvidas acerca da ingenuidade feminina, mas vamos deixar isto para depois.
As mulheres continuam divididas em dois grupos: as que ficam aliviadas por não serem “anormais” – já que não sentem o desejo como hoje lhes é proposto – e aquelas que estão certas de que não há diferenças entre os sexos no que diz respeito ao funcionamento da sexualidade. Estas últimas acreditam que eventuais dificuldades ainda existentes no modo de agir das mulheres são resíduos de uma época em que a educação repressiva as oprimia e limitava. As primeiras acreditam que homens e mulheres são e serão diferentes do ponto de vista erótico.
O tempo irá mostrar quem está com a razão. Reconheço que existiam – e ainda existem – enormes pressões sociais que definem um modo de ser próprio para os homens e outro para as mulheres. Considero que estamos vivendo um processo de mudanças irreversíveis que certamente desembocarão em um estilo de vida “unissex”. Reafirmo, porém, meu ponto de vista de que às diferenças anatômicas – óbvias – correspondem diferenças no funcionamento dos órgãos reprodutores e sexuais, e também do modo como sentimos a excitação, o desejo e as descargas orgásticas.
Penso que seria um raciocínio machista querer entender a sexualidade feminina tomando por base e referência o que acontece com os homens. Sim, porque o desejo das mulheres de se igualarem a eles equivale a dizer que elas os estão considerando como o padrão de referência e de superioridade. Meu modo de pensar é outro: gosto de tentar entender o que se passa dentro das mulheres sem levar para dentro delas minha mente masculina. Quero tentar saber como elas sentem e não como eu me sentiria se estivesse no lugar delas. Acho que temos de aprender a lidar melhor com as diferenças e não tentarmos igualar tudo. Cada pessoa é única, ímpar e não tem similar. Se dois irmãos gêmeos univitelinos têm enormes diferenças psicológicas, que dizer de homens e mulheres?
Vamos tentar avançar um pouco na direção da hipótese que estou defendendo: a de que o desejo sexual está, em nossa sociedade, fortemente vinculado à agressividade. Desta vez, tratarei apenas dos homens e de dois exemplos extremos. O primeiro deles caracteriza o modo de ser dos machões conquistadores e sedutores. Estes homens, que talvez correspondam a uma boa metade da população masculina, são ativos na abordagem das mulheres, insinuantes e muitas vezes inconvenientes. Acham que “não existem mulheres honestas, apenas mal-cantadas.” Quando se aproximam de alguma “gostosa”, emitem ruídos que são indicativos, ao mesmo tempo, de raiva e desejo. Imitam sons próprios das relações sexuais, aspiram forte o ar entre dentes semi-cerrados. Estando junto com outros homens, dirão, com aquela expressão facial de raiva e tesão e com os punhos cerrados, “olha aquela ‘goxtoosa’!” A insistência deles faz bem à vaidade de muitas mulheres, que acabam aceitando sua abordagem. O resto já é conhecido: falam tudo o que elas querem ouvir até conseguirem levá-las para a cama. Depois disso desaparecem, adoram quando elas correm atrás deles e, sempre que podem, as humilham e rejeitam ao máximo. Nada de muito romântico, a não ser algumas palavras mentirosas ditas para induzi-las ao ato sexual.
Não se satisfazem apenas com isso, de modo que é fundamental contar para os amigos que “eu comi a fulaninha.” Estes homens assim grosseiros costumam ser muito dedicados aos seus amigos. Adoram conversar com eles, passam horas em mesas de bar trocando idéias e conselhos, falando de negócios, futebol e, é claro, de mulheres – sempre com aquela postura de desdém e hostilidade, que não pode ter outra fonte que não a inveja. Que outra razão além da inveja levaria muitos deles a, no carnaval, se vestir como mulheres?
O exemplo oposto é o dos homossexuais masculinos. Estes se dão muito bem e são amigos das mulheres, o que é quase impossível para a maioria dos homens. Não as desejam e não as hostilizam. Muitos não têm nenhuma inveja delas, pois só um pequeno grupo de homossexuais gostaria de ser do sexo feminino – os travestis e aqueles excessivamente efeminados seriam o exemplo deste caso. Os homossexuais masculinos raramente tiveram, durante a infância, problemas com suas mães. Mais freqüentemente se indispuseram com pais violentos e que não compreendiam a maneira mais delicada deles se conduzirem. Muitos foram objeto de chacota por parte dos colegas “machinhos” exatamente por força da mesma forma sensível e pouco agressiva de se comportarem. Crescem e se tornam adolescentes com raiva dos homens que os humilharam. O que acontece? O desejo acompanha a raiva! As práticas sexuais entre os homossexuais são, como regra, promíscuas e nada românticas. Criaturas delicadas e requintadas na forma de viver o cotidiano se deliciam com os contextos eróticos mais grosseiros e sujos que se pode imaginar. Homens sofisticados, artistas ou intelectuais de grande erudição fazem sexo com outros homens em banheiros públicos!
Os machões, que tanto assediam as mulheres, as desejam e as odeiam. São amigos de verdade de outros homens, para os quais confidenciam inclusive suas fraquezas – o que é um importante sinal de desarmamento e confiança. Os homossexuais desejam e odeiam os homens. O relacionamento com eles é tenso e difícil fora do contexto erótico. Para todos os outros fins que não os sexuais parece que preferem a amizade e a companhia das mulheres. Esquisito, não? Manifestem-se, falem de si, das pessoas que vocês conhecem. Dêem suas opiniões. Vamos trabalhar juntos para ver se conseguimos elucidar esta questão importantíssima para que homens e mulheres possam, um dia, vir a se amar e, ao mesmo tempo, se dar bem nas relações sexuais.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A Mulher está mesmo sempre receptiva para o SEXO ? Por Flávio Gikovate

 
 
 
Tenho um pouco de medo das comparações que costumamos fazer entre o que observamos em outros animais e em nós. As semelhanças existem, é claro. Acho, porém, que devemos dar maior ênfase às diferenças, pois são elas que definem cada espécie. Assim, costuma-se dizer que as mulheres, diferentemente de outras fêmeas, vivem num cio permanente. Vamos refletir um pouco sobre esta questão palpitante.
As fêmeas dos mamíferos superiores entram no cio quando estão ovulando, ou seja, quando estão disponíveis para a fecundação. O subproduto de hormônios femininos fazem surgir odores especiais na urina delas; estes são captados pelos machos daquela espécie. Ao dectarem o cheiro peculiar ficam excitados e partem em disparada na direção daquela fêmea que o está exalando. Disputam com outros machos a primazia da cópula que, ao ocorrer, dá início ao processo que interrompe o ciclo reprodutor da fêmea. Assim, percebemos que as fêmeas das outras espécies estão disponíveis e atraem os machos apenas durante o período de fertilidade, ou seja, durante o cio.
Nas comparações que fazemos ao estudarmos o tema em nossa espécie, fica claro que as mulheres atraem os homens durante todo o ciclo menstrual, inclusive durante a menstruação. Se analisamos o caso do ponto de vista do desejo que elas despertam nos homens, podemos pensar que vivem um cio constante, visto que as outras fêmeas só atraem os machos durante esse período específico. Este seria um modo muito incompleto de analisar a questão, além de me parecer um tanto curioso tentarmos pensar sobre o que acontece com uma mulher apenas por aquilo que ela desperta nos homens. Dizer que a mulher vive no cio me parece uma visão masculina e, até certo ponto, machista.
Temos que nos ater ao outro lado da questão, que é o que acontece com a mulher. O fato de o desejo sexual, na nossa espécie, ser intermediado basicamente pela visão faz com que a mulher apareça como interessante sexualmente ao olhos dos homens o tempo todo. Isto não quer dizer que ela se sinta disponível para a intimidade sexual durante todos os dias do mês. E mais: mesmo se pode ter relações a qualquer tempo, não quer dizer que não existam dias do ciclo nos quais se sinta mais excitada. Não é mesmo impossível que estes dias de maior disponibilidade coincidam com aqueles da ovulação. Uma coisa é a mulher despertar o desejo do homem o tempo todo e outra coisa é ela estar o tempo todo com a mesma disposição para o sexo.
Insisto em que isto não nos permite nenhuma conclusão a respeito do que as mulheres sentem a respeito do assunto. Como a norma tradicional e nossa cultura sempre foi a de que cabe os homens a iniciativa sexual, sendo que até há pouco tempo não era dado à mulher o direito de recusa, é claro que nunca se questionou com seriedade o que, de fato, acontece com ela.
Não é impossível que muitas mulheres vivenciaram sentimentos de incopetência sexual por não estarem sempre com um desejo equivalente ao que despertavam em seus companheiros. É claro que muitos homens se sentiram rejeitados injustificadamente porque não encontraram mulheres disponíveis para eles – para o sexo e não para eles – exatamente naqueles dias em que elas tanto os provocavam e excitavam por sua aparência sensual com maior facilidade porque a dependência prática que se estabelece é muito menor. Inteiros que se aproximam e se amam não se sentem donos do outro pelo simples fato de os amarem. Não existem os direitos de mandar e desmandar no outro apenas porque há o elo amoroso. Inteiros que se sentem insatisfeitos podem ir embora. Esta é a novidade maior, pois não há mais lugar para abusos e dominações.
Assim, sem que tenhamos percebido, a capacidade de conceder que caracteriza as pessoas generosas tem diminuído em virtude de elas poderem ficar melhor consigo mesmas. Passam a pretender parceiros mais delicados, mais preocupados com o direito delas, menos egoístas. Assim, egoísmo e generosidade estão saindo da moda. Sim, porque se o generoso quer que se preste atenção nele e nos seus desejos de ser generoso e está se encaminhando na direção do senso de justiça. Com isto não haverá mais lugar para o egoísmo que só existe porque há generosidade. O que tem acontecido? Inteiros se aproximam, se “curtem” , estabelecem elos onde há preocupação permanente em agradar o outro ao mesmo tempo que não abrem mãos de seus direitos individuais. A palavra-chave desta nova e mais sofisticada forma de amar é a mesma que sempre e existiu nas amizades: respeito.
 

sábado, 19 de novembro de 2011

Por que nos decepcionamos com o amado ?? por Flávio Gikovate


Por que nos encantamos sentimentalmente com uma pessoa? Ainda não podemos responder integralmente a esta pergunta fundamental. Fomos capazes de avançar muito a esse respeito nos últimos anos, de modo que algumas conclusões parciais podem ser muito úteis para que cometamos menos erros.
Nós nos envolvemos com outra pessoa porque nos sentimos incompletos em nós mesmos. Se nos sentíssemos inteiros e não “metades”, certamente não amaríamos. Sim, porque o amor corresponde ao sentimento que desenvolvemos em relação àquele que nos provoca a sensação do aconchego e completude que não conseguimos sentir quando estamos sozinhos. A escolha do parceiro, daquele que irá nos fazer sentir menos desamparado, é repleta de variáveis intrigantes que vão desde o desejo de também nos sentirmos protegidos até aquelas em que precisamos nos sentir úteis e até mesmo explorados.
Neste momento, estou querendo me ater um pouco ao processo do enamoramento, no encantamento inicial que faz com que uma pessoa “neutra” se transforme em indispensável, sem a qual não podemos imaginar seguir vivendo. O processo, que não raramente se dá em poucos instantes, depende de elementos nem sempre detectáveis. É claro que a aparência física das pessoas envolvidas desempenha um papel muito importante no fenônemo do enamoramento. Esse aspecto inicial do encontro amoroso não deve ser confundido com o amor propriamente dito. O amor é paz e aconchego ao lado de uma pessoa, ao passo que o enamoramento corresponde ao processo pelo qual esta pessoa é escolhida – e que, como regra, corresponde a um período nada sereno; o amor é uma emoção ansiada mas que nos chega acompanhado de muitos medos.
No que diz respeito à aparência física, é claro que o elemento erótico se destaca, especialmente nos homens que têm um desejo visual marcante. Acontece que, por caminhos diversos, muitos são aqueles que guardaram em suas memórias registros de figuras que muito os impressionaram e que se transformaram em modelos ideais com os quais cada nova pessoa conhecida é confrontada. Por vezes é algo geral, incluindo a forma do corpo; outras vezes é a cor dos olhos, dos cabelos, o tipo de seio, os quadris.
Algo que pode lembrar desde suas mães até alguma estrela de cinema que muito lhes tenha impressionado. A verdade é que, por outras vias, as moças também guardam dentro de si indicadores do que elas acham que seja o homem ideal para elas: podem ser esbeltos ou musculosos, intelectualizados ou executivos, voltados para as artes ou poderosos, e assim por diante. Todos esses ingredientes incluem elementos eróticos, mas todos eles se transformam, em nossa imaginação, em símbolos dos nossos parceiros ideais. De repente, julgamos ter encontrado um número importante de tais símbolos naquela pessoa que nos passou pela vida. E nos enamoramos.
Assim sendo, o fenômeno do enamoramento se fundamenta em aspectos relacionados com a aparência do outro. É claro que ela costuma ter relação com o que a pessoa é por dentro. Mas a correlação não é absoluta e nem assim completa. Conversamos com a pessoa que nos atraiu e, em virtude da atração inicial que sentimos e do nosso desejo enorme de amar, tendemos a ver no seu interior as afinidades e peculiaridades que sempre quisemos que existissem naquele que nos arrebataria o coração. Por exemplo: um rapaz mais franzino, mais intelectualizado e voltado para as artes é visto, mais ou menos rapidamente, como emotivo, romântico, delicado e respeitoso, pouco agressivo, que respeita os direitos da mulher e não é exageradamente ciumento. Uma moça se encanta com ele e espera que ele seja portador de todas essas peculiaridades. Essa expectativa se transforma, mais ou menos rapidamente, em certeza de que elas existem. A moça projeta seus sonhos de perfeição naquele rapaz que tanto a encantou e passa a ter certeza de que as propriedades desejadas estão lá. O fenômeno é o da idealização, pelo qual acreditamos que o outro contenha todas as peculiaridades que dele esperamos.
Sonhamos com o príncipe encantado – ou com uma princesa ideal – e, ao nos enamorarmos, projetamos todos os nossos desejos sobre aquela pessoa. Passamos a conviver com ela e a esperar dela as reações próprias do ser que idealizamos. O que acontece? É a pessoa real a que irá agir, reagir e se comportar de acordo com suas efetivas peculiaridades. Não poderemos deixar de nos decepcionar, não obrigatoriamente por causa das peculiaridades efetivas do amado, mas porque despejamos sobre ele todos os nossos sonhos e exigências de perfeição. O erro nem sempre está na pessoa e sim no fato de termos sonhado com ela mais do que prestado atenção nela, no que ela efetivamente é. Eis aí um bom exemplo dos perigos derivados da sofisticação da nossa mente, capaz de imaginar de uma forma livre e tão grandiosa que a realidade jamais irá alcançar.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Reminiscências da Minha Adolescência

          Decidi mergulhar na reminiscências da minha adolescência,época que nem a net existia(rsrs...),mas os problemas interiores eram os mesmos.Quem tiver paciencia de ler até o final,irá ter algumas noções de uma época bem diferente do ponto vista tecnológico e científico mais identica  nos problemas emocionais.
          Começo falando do lar,aonde era acolhido com meus complexos e questionamentos interiores. Se observar na foto a casinha amarela, era lá aonde morava. Uma casa que tinha dois vão... Ali convivia com minha vó materna,mãe,um irmão e uma irmã...Tinha perdido meu pai quando tinha 1 ano e meio...Nesta casa aonde éramos iluminados pela luz frágil da lamparina,ao mesmo tempo recebia a luz intensa de pricípios morais e éticos que até hoje  norteiam minha existência...
        Era um adolescente de uma  classe social que  não me permitia consumir produtos direcionados a minha faixa etária...Supria o meu tempo praticando esporte, gostava muito de correr e esta atividade hoje é responsável por manter um bom peso (rsrs..) 
       Na adolescência sentia-me rejeitado, por não ter o requisito que achamos mais fundamental nesta faixa etária: a beleza física.Nunca aprendi a dançar... ou seja não participava de eventos sociais...e a solidão foi minha melhor e mais longa companheira.. Isto me conduziu ,hoje reconheço, para a leitura.. Privado de beleza fisica, fui alimentando  o meu intelecto e percebi que também é uma "beleza" valorizada...Ficamos irritados quando percebemos que os mais bonitos,levam uma imensa vantagem sobre a nós (rsrs..) Aí manisfestamos  inveja  colocando adjetivos  depreciativos (rsrs..)Claro que era desengonçado e extremamente tímido...Achava que por não ser privilegiado no jogo da conquista, era crítico na forma como os "homens" adolescentes  refere-se as suas conquistas ( que chamo de satisfação de seus egoismo e não para construir uma relação..)Não me sentia bem, em vê-los  tratar as mulheres como objetos... Claro que  nesta idade, isto me causava insegurança com relação a minha masculinidade...Não pelo ser masculino, e sim segundo critérios usados :A quantidade de garotas com que se ficam.. ou a relação sexual praticada o mais cedo possível..Hoje vejo que este modelo do macho é equivocado. Nesta idade vc acha que o modelo está corretos e  qualquer pensamento diferente totalmetne errado..Por não compartilhar  dos valores do machismo:competetividade,gabolice,egoísmo... e ainda não ter uma carcaça que ajudava a entrar no jogo da conquista (rsrs), buscava me isolar cada vez mais.. Claro q desprovido da aparencias fisica e rejeitando os valores machista, não me sentia interiormente feliz. Porque levamos muito em conta aquilo que nos é imposto como valores absolutos.Assim começava, mesmo sofrendo interiormente, e ainda se Sentindo rejeitado exteriormente , um pensamento contrário a esta doença chamada "MACHISMO". E percebendo a ideia de que   nem toda beleza   é fisica e que nem todo conceito imposto é correto.
          A minha adolescência, lembro-me mais das brincadeiras do que das conquistas...Não por opção mas por faltas delas (rsrs...) Època que as festas começavam às 20h e terminavam às 24h..Hoje vejo os adolescentes indo para as festas a partir das 24h... tantas coisas mudaram neste período,menos as angústias e incerteza interiores...

domingo, 6 de novembro de 2011

Admiração, Inveja e Amor Por Flávio Gikovate

Admiração, Inveja e Amor.
 
Publico mais um texto  do Psicoterapeuta Flávio Gikovate.O Objetivo é mergulhar na alma humana, e tentar descobrir determinados comportamnetos que temos e observamos...
 
 
 
 
 A busca de destaque social através do sucesso em alguma área de atividade (que é a forma usual da manifestação adulta do exibicionismo e que chamamos de vaidade) teria por finalidade atenuar a sensação de desamparo, solidão e insignificância, sensações geradoras de brutal desespero, especialmente para aquelas pessoas que, em virtude de sua inteligência, são mais conscientes destas propriedades da condição humana. Apenas algumas observações serão suficientes para demonstrar que este caminho não leva a parte alguma, a não ser uma relativa neutralização da sensação de insignificância que, ainda assim, necessita permanentemente de reforços derivados de novos feitos, capazes de chamar a atenção das outras pessoas.Se a intenção inicial das pessoas que buscam o destaque é, através dos seus desempenhos, acima da média, obter admiração e o amor dos que lhe são próximos, o resultado na prática é bastante diverso deste. O sentir-se amado pode efetivamente representar uma importante atenuação do desamparo original, sendo um remédio eficaz para o desespero que deriva da consciência da solidão, de modo que seria legítimo buscar esta solução, ainda mais que ela estaria na mesma direção da que determina o prazer erótico ligado ao sucesso. O que perturba esta solução, aparentemente muito boa porque resolve os dois anseios – afetivo e erótico –, é que a admiração determina o surgimento da inveja e não do amor.
Amor e inveja derivam da mesma fonte: a admiração. Porém, na prática, a inveja é a emoção que mais frequentemente se manifesta, especialmente quando as diferenças entre as pessoas são mais marcadas. Para que a admiração resultasse em amor seria necessário que as pessoas em geral estivessem relativamente bem consigo mesmas, de modo a não se sentirem humilhadas, agredidas, pelas competências especiais das outras.
Acredito que a maioria das pessoas que buscam o destaque social só percebem muito tardiamente que seu sucesso desperta muito mais frequentemente a inveja do que o amor; e, mais, que vive esta constatação surpreendente como profundamente decepcionante e geradora de uma grave crise íntima. Não é fácil aceitar que o resultado de tanto esforço e dedicação a uma causa qualquer – desde as mais nobres até o simples sucesso material – seja a hostilidade sutil, manifestada principalmente pelas pessoas mais chegadas, amigos e familiares. E agora o que fazer? Abandonar tudo e iniciar uma nova vida? Com que forças? E para onde dirigir essas energias, se o resultado de uma mudança de rota pode ser o mesmo, ou seja, a inveja?
Na maior parte das vezes, não há mais como haver uma reversão do processo, principalmente porque as pessoas já estão muito habituadas às gratificações eróticas derivadas do sucesso social. A vaidade funciona, nestes casos, como um vício qualquer: o indivíduo percebe que ela lhe é nociva – por causa da inveja que sua condição desperta – mas não consegue mais abrir mão dos prazeres que dela advém. O sentir-se hostilizado agrava a sensação de solidão e desamparo, o que costuma determinar um agravamento do desespero, agora acrescido de revolta contra as pessoas invejosas. O desespero e a revolta geram uma energia ainda maior, que é usada na direção de se obter um destaque mais acentuado, que agrava a solidão. A inveja é um sinal da admiração e do destaque obtido, de modo que passa a ser buscada ativamente, apesar da mágoa íntima que possa causar. Para continuar a ser admirado e destacado, terá que se comportar cada vez mais de acordo com o que o grupo social valoriza – ainda que já tenha percebido seu caráter absolutamente ilusório e, na prática, insatisfatório. Desta forma o grau de liberdade individual se torna mínimo, ao mesmo tempo que o indivíduo fica cada vez mais sozinho, apenas se gratificando – em doses cada vez maiores, como em qualquer vício – dos prazeres eróticos ligados ao exibicionismo.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Será que é preciso amar a si mesmo ante de amar aos outro?

Será que é preciso amar a si mesmo ante de amar aos outro?



Sempre me surpreendo ao ouvir as pessoas falarem, com convicção, frases conhecidas, tidas como verdades, sobre as quais pouco refletiram. Elas correspondem às crenças, pontos de vista que herdamos daqueles que nos antecederam. Temos o dever de repensar tudo, uma vez que novos conhecimentos podem criar maneiras mais sofisticadas de encarar os temas que tanto nos interessam.
Esta é uma destas frases: “se eu não conseguir me amar primeiro, não serei capaz de amar ninguém”. Isso é dito e pensado a propósito da possibilidade de estabelecermos um relacionamento íntimo, estável e de boa qualidade. Não se está falando em termos genéricos, de modo que ela não está diretamente ligada ao ditame bíblico de que devemos “amar ao próximo como a nós mesmos”.
O “próximo” do texto bíblico é qualquer pessoa com a qual estabelecemos algum tipo de relação e não aquele ser especial com quem queremos estabelecer um relacionamento íntimo, de preferência estável e definitivo. Além disso, penso que a idéia religiosa diz respeito ao tratamento e aos direitos, ou seja, de que devemos considerar os outros como portadores de direitos iguais àqueles que atribuímos a nós.
A forma como tenho pensado acerca do amor não nos permite falar em amor por si mesmo. Isso porque ele acontece sempre em condições interpessoais. O amor corresponde ao sentimento que temos por aquela pessoa cuja presença provoca em nós a adorável sensação de paz e aconchego. A primeira manifestação desse sentimento corresponde ao que acontece entre mãe e filho, talvez ainda durante a vida intra-uterina, mas, certamente, a partir do nascimento: a criança, desamparada e ameaçada por desconfortos de todo o tipo, se sente bem e aconchegada pela presença física da mãe e a ama; esta, por sua vez, sente enorme prazer em estar com seu bebê no colo e sente por ele enorme amor justamente porque ela também se sente aconchegada por ele.
O primeiro sentimento interpessoal é o de amor. É claro que a criança, frustrada pela ausência da mãe, também pode ficar revoltada e chorar muito por se sentir abandonada. Talvez o segundo sentimento seja mesmo de raiva, que também é interpessoal (depende de um agressor externo). À medida que os meses se passam e a criança vai se diferenciando, ela passa a pesquisar o mundo que a cerca, inclusive a si mesma. Ao tocar certas partes do seu corpo, experimenta uma sensação muito agradável de excitação. Trata-se de excitação sexual, esta sim pessoal e auto-erótica.
Quando se pensa no sexo e amor como parte do mesmo processo, o que não é o meu ponto de vista, pode-se pensar que exista algum tipo de afeição da criança (e depois do adulto) por si mesmo. Acontece que com a separação entre esses dois fenômenos (sendo fato que o amor acontece antes do sexo), podemos pensar no sexo como um fenômeno pessoal, mas não no amor como tal. Assim, existe auto-erotismo, mas não existe amor por si mesmo: o amor pede objeto e o primeiro objeto é nossa mãe.
Estas considerações são de natureza mais teórica. Vamos agora à prática, na qual constatamos que a grande maioria das pessoas não tem um bom juízo de si mesma. Isso significa que elas não têm boa auto-estima, o que costuma ser tratado como sinônimo de ausência de amor por si mesmas. Estima é uma palavra que pode estar associada a amor, mas também significa valor; penso mais neste segundo aspecto, de modo que baixa auto-estima significa que não estou satisfeito com o meu jeito de ser. Eu sou o juiz e também aquele que é avaliado, no caso, de forma negativa. Se isso, de fato, implicar em incapacidade para amar, podemos afirmar que o amor não existe!
O que acontece não é nada disso. Aquele que tem de si um juízo negativo costuma se interessar por alguém que seja o seu oposto. Isso sim é a regra do que acontece na realidade: nos encantamos pelos que são o oposto de nós, já que não gostamos nem um pouco do nosso jeito de ser. As pessoas que acompanham meu trabalho sabem que considero este tipo de aliança um tanto precária e, hoje em dia, com tendência a uma vida curta.
Podemos dizer que quem não tem boa auto-estima (expressão melhor do que “aquele que não se ama”) tende a amar seu oposto. A qualidade deste tipo de relacionamento é muito duvidosa, de modo que, nesse sentido, podemos dizer que aqueles que têm uma boa auto-estima (expressão que substitui, com vantagens, “aquele que se ama”) tendem a estabelecer relacionamentos amorosos muito melhores encaixados e bastante mais gratificantes.
Ao pensarmos por esta ótica e se considerarmos como amor apenas este segundo tipo de relacionamento, entre pessoas de temperamento e caráter afins, podemos dizer que ele depende vitalmente de uma boa auto-estima. Como ela é rara, também serão raros os relacionamentos amorosos. Acontece que não me parece razoável pensar assim, já que os relacionamentos entre opostos também implicam em aconchego e intimidade – apesar dos problemas, conflitos, ciúmes e brigas de todos os tipos. Assim, só poderíamos mesmo é afirmar que para sermos muito felizes no amor temos antes que nos entender conosco mesmos. Talvez seja essencial um avanço na capacidade de ficar bem consigo mesmo, de correção daqueles aspectos que não gostamos em nós e do atingimento de um estado de conciliação com nossa forma de ser para que possamos estar verdadeiramente prontos para um relacionamento amoroso no qual as delícias do aconchego possam nos satisfazer plenamente.
                  
                   Texto de Flávio Gikovate

domingo, 23 de outubro de 2011

Amizade é Mais do que Amor por Flávio Gikovate

 

 

É sempre muito difícil comentar de uma forma nova um assunto que já conhecemos. Temos uma forte tendência conservadora, que nos leva a rejeitar, ao menos num primeiro instante, qualquer idéia que não esteja em concordância com o que já sabemos. Vou falar de amor e, então, parece mais difícil ainda que as pessoas consigam ver seus aspectos menos simpáticos.
O amor corresponde a uma busca de completude. Todos nós, desde o início da vida, temos a sensação de sermos incompletos. Parece que só nos sentimos inteiros e em paz quando estamos com o nosso eleito. Assim, é óbvio que nosso primeiro amor é nossa mãe, e todos os outros objetos de amor que venhamos a ter ao longo das nossas vidas serão substitutos dela.
As crianças são extremamente dependentes de suas mães, com as quais têm a sensação de estarem fundidas. Sentem-se inseguras quando estão longe delas e vivem atormentadas pelo pesadelo de que ela poderá abandona-las ou morrer. Quando refletimos sobre as relações amorosas entre adultos, percebemos que o modo como se unem é muito semelhante ao sentimento que liga uma criança à sua mãe. A grande verdade é que os ingredientes negativos relacionados ao ciúme também se manifestam de uma forma muito intensa. É por causa disso que costumamos perceber o amor como um sentimento que acaba se opondo de modo mais ou menos definitivo aos desejos de individualidade.
O amor adulto é uma cópia do que se passa na infância. O discurso é mais racional, mas as reações são idênticas às das crianças. Casais apaixonados se tratam por diminutivos infantis e gostam de receber agrados também infantis. Esses pequenos detalhes não seriam importantes se não viessem acompanhados de noção de que aqueles que se amam têm direitos sobre seus amados. A mãe se acha com direitos sobre seus filhos e isso, até uma certa idade, faz sentido. Agora, que o marido possa dizer à esposa se ela pode ou não usar determinada roupa, ir ou não a um dado lugar, é uma ofensa aos direitos individuais.
O outro tipo de relacionamento íntimo que vivenciamos é o da amizade. Aqui, o prazer da companhia é tão importante quanto o que existe nas relações chamadas amorosas. A confiança recíproca e a cumplicidade costumam ser até maiores do que as alianças encontradas entre os que se amam. Somos mais respeitosos e menos dependentes de nossos amigos.
Qual a conclusão? Para mim, fica claro que o amor é um processo infantil que costuma se perpetuar ao longo da nossa vida adulta. A amizade é um tipo de aliança muito mais sofisticada porque não busca a fusão e sim a aproximação de duas criaturas que tenham importantes afinidades e interesses em comum. Nossa parte adulta estabelece vínculos respeitosos e ricos em intimidade, que correspondem à amizade. Nossa parte infantil tende a estabelecer um elo único com outra pessoa, em relação à qual passamos a ter expectativas similares àquelas que tínhamos de nossa mãe. Não tenho dúvidas a respeito: amizade é um processo muito mais adulto do que chamamos de amor.