sábado, 31 de dezembro de 2011

Afinidade de Arthur da Távola

Poesia Afinidade de Arthur da Távola



AFINIDADE

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.

É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois
que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples
e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Só entra em relação rica e saudável com o outro,
quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar,
não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade.
Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita
o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento de não afins, eis a guerra.

A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar,
por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,
veremos ou falaremos.

Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem
para buscar sintomas com pessoas distantes,
com amigos a quem não vemos, com amores latentes,
com irmãos do não vivido?

A afinidade é singular, discreta e independente,
porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu
o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação
exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas
nem pelas pessoas que as tem.

Por prescindir do tempo e ser a ele superior,
a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades
ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós,
para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,
porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.

Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois
encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir
restituir o clima afetivo de antes,
é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal.
Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta,
ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.
A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.
A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas,
plantios de resultado diverso.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quantos das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão do outro sob a forma ampliada e
refletida do eu individual aprimorado.
Arthur da Távola

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Minhas Amigas Virtuais...


A distância que numa amizade "real" pode torná-la árida,na amizade virtual ela se torna um orvalho que cai todo dia e  a irriga.Assim a árvore chamada amizade fica forte e frutífera.Seus galhos  longos  com suas folhas abundantes, servem de sombra  para nos refrescar diante das situações escaldantes  da vida. 
                Podemos morar  no mesmo estado, e  talvez nunca nos   encontrarmos.Esta  distância  não se torna  obstáculo para vivênciá-la  intensamente ! Se os  quilômetros de asfaltos  nos separam,o digitar de nossos dedos nos aproximam. O clique no teclado denuncia na  tela, a riqueza da alma que a digita. A alma do outro lado,vai revelando as qualidade mais intrínsecas do seu profundo ser...Revelação que mostra como a nossa espécie é cheia de gente especiais e encantadoras. 
                  Tenho a certeza que outras pessoas mereceriam serem incluídas.O problema que não teria como excluir nenhumas destas citadas.Usei como critérios a afinidade e o volume de tempo que usufrui delas rsrs... A partir do momento que quis limitar o número em sete.Sete é a perfeição no mundo bíblico. E a oitava  é  uma pequena lembrança de quem partiu tão cedo desta vida...
                          
                 Falarei de algumas amizades que fiz :
   @Beth_Amorim, Caicó/RN :
                                                 Aprendi a admirá-la  pela forma de enfrentar as tempestades da vida( que normalmente nos deixa prostrado, mas nela  serve para fortificá-la... ).Não se refugiando sobre a fragilidade dos clichês : " A vida é assim mesmo... " Como se esta afirmativa "cheia" de razão, esvaziasse a dor que corrói o coração...Ao contrário prefere,  expor a dor dilacerante  e  assim vai forjando com mais firmeza   o seu interior.A grandeza de sua personalidade ficou evidente  quando reencontrou  a felicidade.E aí  teve que enfrentar   o adversário mais vil que há na nossa espécie : Os invejosos.Como diz Van Goethe " ... a felicidade  é insuportável , para alguns A   mesquinhez de corações pequenos, pois , não cabe neles a felicidade de outros.Em Beth o simbolo da Fênix  foi expresso primeiro  em sua alma para depois ser registrada em seu corpo...Fiz de seu espaço "Tempestades de Ideia" um lugar de visita permanente e aonde cativei esta amizade valiosíssima...
 
    @ArianeNay, Santo Antônio /RN
 Sua força cativadora pude constantar  no dia de seu níver.A time line do tuite não parava de receber  elogiosas felicitações.Ela une a energia intensa da juventude, sempre   saindo com seu  círculo de amigos e se divertindo em vários eventos sociais.Ao mesmo tempo dedicada nos estudos.Este equilibrio entre  descontração com os amigos e concentração nos estudos prova que tem uma mente brilhante...e um futuro promissor.
 
@euAdrianaRocha, Mogi das Cruzes/SP
  Firmeza nas opiniões  e decisões que toma.Fala de suas convicções sempre com profundidade e com muitos argumentos.Seus textos   foge do senso comum ,tem uma visão perspicaz que nos ajuda a observar temas corriqueiros de um novo ângulo. Suas opiniões revela  suas convicções...Um coração eternamente grato ao pai e aos valores que deixou e os quais sob herdar...Mãe na essência da palavra..escritora ...E além disso  tudo muito gentil ...ainda me presentou com o livro "Eu te acompanho até  a cruz "
                          
 @nanamada, Rio De Janeiro/RJ
A conheci na campanha  presidencial de 2010.Surfando na onda vermelha.Sempre tirava  umas  penas  tucanas (rs) com suas criticas.Os  argumentos fácil e sólido ideologicamente, deixava a   estrela do Pt mais brilhante rs...Se as posições politicas nos aproximaram..A sua profissão (estudou licenciatura plena em artes visuais ) aprofundaram a admiração. No seu blog Arte, manhas, manias e amenidades  através de suas postagens tive acesso a artistas  e obras  que totalmente desconhecia. Obras valiosas,feitas por pessoas que mereciam melhor reconhecimento popular.Homens e mulheres que mostra o que a criatividade humana é capaz de produzir  de tão belo e eterno..  Esta  amizade me conduziu a  obras   grandiosas que o espírito humano é capaz de realizar.A riqueza do seu intelecto, ela distribui conosco  que formos empobrecidos por uma "cultura de massa"...
  
  @BSBJU, Brasília/DF
A sua oração foi o porto que algumas vezes a minha alma angustiada ancorou.Faz de sua devoção ao senhor Jesus  o alicerçe de sua fé cristã.Sensação de ser "zen" (rsrs).Sempre a imaginei calma, tranquila, serena e paciente ... (Pude comprovar num aúdio que  me enviou,aquela paz angelical...)No uso e costume tem uma visão evangélica conservadora...Defende sua ideia longe de parecer farisaica..mas sim trazendo luz sobre temas obscurecidos  pela   libertinagem...educada e muito gentil

   @BelatrizBrasil, Cascavel/PR
 Sinceridade e temperamento forte,são as duas características que contemplamos imediatamente .Frase longas  e intensas com momentos que nos avisa, que prefere a reclusão para ordenar a sua situação. Prefere sempre a convicção de suas opiniões do que a conveniência  de agradar ao interlocutor.Sua amizade nos educa a sermos maduro. Nos ensina a aprender a respeitar a individualidade...Se torna uma fera em  defesa dos animais.. ....A sua amizade não ha espaço para superficialidade ...Pode ser  dura  mas jamais sem perder a  ternura...Ainda é esquerdista!

    
 @Yram_esor78, Pendências /RN


Uma personalidade cheia de auto confiança,mas sem nenhuma presunção.Atitude que terá a admiração de quem gosta de pessoas autêntica e também despertará a inveja de quem não suporta ver alguém  tão independente em sua  filosofia  de vida...Transparente
 nas análises dos fatos que a envolve..,revela  o seu estado emocional de forma sincera. ..Compartilha de forma contagiante  a sua alegria conosco..Não usa máscara e mostra sua força  quando expõe  algo que não vai bem...Prefere mergulhar em si mesmo...prestativa...profissional da educação, não transmite conteúdo , e sim ferramentas para serem utilizadas na vida de seus discipulos...

 
   @mulheres sábias,Rio De Janeiro/RJ 

                                      Um pessoa gentil, tranquila ,familia....O seu blog revela a grandeza de sua personalidade e sua inteligência..Uma pessoa evangélica que pensa e tem ideias própria (convenhamos, coisa  rara no nosso  meio..)No blog expões sua visão de forma  corajosa... trata da pena de morte ao dizimo...Sai do lugar comum e tem compromisso com a verdade e não  com alienação..Na politica anti PT ( ou seja estamos em caminhos opostos rsrs) Esta divergência que poderia impedir ou interromper nossa amizade, pelo contrário serviu para consolidá-la.Qual a riqueza de conviver com alguém que pensa diametralmente oposto ? Descobrimos que a  estima  é mais valiosa do qualquer  preferência ideológica rs...Diria que esta amizade foi pedagógica..
             "A distância  faz a amizade aquilo que o vento  faz ao fogo: apaga o pequeno ,inflama o grande"  (Steeh)

Homenagem póstuma...
  
@Vane_fernandes  ,Caicó/RN

                                              No dia 18 de agosto respondi no  tuite , e  a chamei de "menina dos olhos de Deus".  No dia 04 de setembro ,Ela posta sobre um concurso às 14h, e  esta seria a sua última mensagem virtual.Não sei quantas coisas deve ter passado no seu pensamento, mas com certeza jamais imaginou que seria a última tuitada postada...A última vez , que seus dedos se comunicaria conosco.. e às 17h sai na sua traxx em direção a casa da Vó...Aquele caminho a estava levando para o caminho, que todos nós teremos que trilhar:A MORTE. Naquele domingo,ligo o computador e fico sabendo de um acidente, entre uma moto honda titan e uma motocicleta traxx,não sabia que era  conduzida por Vanessa.Sempre imaginamos  qualquer um e jamais em alguém conhecido.Não podia imagina que Vanessa era a vítima fatal.Em plena juventude e cheio de sonhos,  a sua existência nesta vida é interrompida de forma brusca e chocante...Até hj  crio uma ilusão que na time line  a qualquer momento irei ver um texto digitado por ela.....Não cheguei a criar um laço no mundo virtual ,mas sua morte prematura me tocou profundamente..Faço deste espaço sempre um tributo a juventude que se foi ,quando menos esperava...
                                              















































































sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Amor Versus Individualidade Por Flávio Gikovate

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Ao longo do segundo ano de vida a criança vivencia enorme avanço em suas competências: aprende a andar, a formular as primeiras frases, aprimora suas aptidões motoras etc. Se até então seu maior prazer era ficar no colo da mãe, usufruindo da paz e aconchego similar ao que foi perdido com o nascimento e sentindo por ela aquilo que chamamos de amor, agora ela gosta também de circular, especular o ambiente, tentar entender para que servem e como é que funcionam os objetos. Coloca quase tudo que encontra na boca, tenta sentir seu tato, observa o que acontece quando deixa que caiam no chão. Dá sinais de grande satisfação a cada nova descoberta. Está praticando os primeiros atos próprios de sua individualidade – e se deleitando com eles.
Tudo isso acontece na presença da mãe. Sim, porque se ela for para um outro local, a criança imediatamente abandona o que está fazendo e sai em disparada atrás dela. O mesmo acontece se levar um tombo: corre chorando de volta para o colo. Diante da dor física ou da iminência de distanciamento exagerado da mãe, a sensação de desamparo cresce muito rapidamente e aí torna-se absolutamente necessária a reaproximação. Há, pois, uma clara alternância de preferências: estando tudo em ordem, o que a criança quer é exercer os prazeres da sua individualidade em formação; ao menor desconforto, busca no aconchego materno (amor) o remédio para todas as dores.
Não há como não compararmos nossos comportamentos ditos adultos com o que acabei de descrever: queremos exercer nossa individualidade com a máxima liberdade, mas queremos voltar para casa e encontrar o parceiro à nossa espera. Ficamos bem longe da pessoa amada por algum tempo, mas depois o desejo maior é o de nos aconchegarmos; se isso não é possível, sentimos a dor forte correspondente à saudade (mistura de abandono com lembrança do calor que advém da companhia). Temos a nosso favor o benefício de um imaginário mais rico e a capacidade de nos comunicar à distância graças aos recursos tecnológicos: nos sentimos aconchegados, mesmo estando longe, graças às palavras e juras de amor.
No convívio íntimo, parece que queremos mesmo é encontrar uma fórmula capaz de conciliar amor e individualidade: quero, por exemplo, assistir ao programa de TV do meu interesse e quero que minha amada esteja ao meu lado, se possível bem agarradinha. Ela, também interessada no aconchego, poderá tentar achar graça, por exemplo, no jogo de futebol que tanto me encanta. Mas talvez não consiga e aí começam os problemas. Ela se afastará, indo em busca daqueles que são os seus reais interesses individuais. Eu me sentirei rejeitado, abandonado e mal amado; tentarei pressioná-la com o intuito de fazer com que volte. Ela, prejudicada em seus legítimos direitos, se revoltará e a briga (chamada de “briga normal dos casais”) será inevitável.
O homem é, ao mesmo tempo, a criança e a mãe. O mesmo vale para a mulher. Querem exercer sua individualidade, mas sem se afastar muito um do outro. Lutarão pelo poder, para definir quem irá impor o ritmo e a programação. Por maiores que sejam as afinidades, sempre irão existir atividades que são do interesse exclusivo de um dos membros do casal. A fórmula tradicional – homens mandam e mulheres obedecem – não funciona mais (felizmente).
O que fazer? Só há um jeito: o crescimento emocional de ambos para que a dependência típica do amor infantil se atenue. Que cada um consiga se sentir em condições de exercer suas atividades, de modo a liberar o parceiro para fazer o mesmo.

sábado, 3 de dezembro de 2011

O Desejo Sexual Acompanha a Agressividade Por Flávio Gikovate

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Foram interessantes e diversificadas as manifestações dos participantes do fórum. Parece que os homens não têm dúvidas sobre o poder sensual que as mulheres exercem sobre eles, e muitos acham que elas não são conscientes de sua força. Eu tenho dúvidas acerca da ingenuidade feminina, mas vamos deixar isto para depois.
As mulheres continuam divididas em dois grupos: as que ficam aliviadas por não serem “anormais” – já que não sentem o desejo como hoje lhes é proposto – e aquelas que estão certas de que não há diferenças entre os sexos no que diz respeito ao funcionamento da sexualidade. Estas últimas acreditam que eventuais dificuldades ainda existentes no modo de agir das mulheres são resíduos de uma época em que a educação repressiva as oprimia e limitava. As primeiras acreditam que homens e mulheres são e serão diferentes do ponto de vista erótico.
O tempo irá mostrar quem está com a razão. Reconheço que existiam – e ainda existem – enormes pressões sociais que definem um modo de ser próprio para os homens e outro para as mulheres. Considero que estamos vivendo um processo de mudanças irreversíveis que certamente desembocarão em um estilo de vida “unissex”. Reafirmo, porém, meu ponto de vista de que às diferenças anatômicas – óbvias – correspondem diferenças no funcionamento dos órgãos reprodutores e sexuais, e também do modo como sentimos a excitação, o desejo e as descargas orgásticas.
Penso que seria um raciocínio machista querer entender a sexualidade feminina tomando por base e referência o que acontece com os homens. Sim, porque o desejo das mulheres de se igualarem a eles equivale a dizer que elas os estão considerando como o padrão de referência e de superioridade. Meu modo de pensar é outro: gosto de tentar entender o que se passa dentro das mulheres sem levar para dentro delas minha mente masculina. Quero tentar saber como elas sentem e não como eu me sentiria se estivesse no lugar delas. Acho que temos de aprender a lidar melhor com as diferenças e não tentarmos igualar tudo. Cada pessoa é única, ímpar e não tem similar. Se dois irmãos gêmeos univitelinos têm enormes diferenças psicológicas, que dizer de homens e mulheres?
Vamos tentar avançar um pouco na direção da hipótese que estou defendendo: a de que o desejo sexual está, em nossa sociedade, fortemente vinculado à agressividade. Desta vez, tratarei apenas dos homens e de dois exemplos extremos. O primeiro deles caracteriza o modo de ser dos machões conquistadores e sedutores. Estes homens, que talvez correspondam a uma boa metade da população masculina, são ativos na abordagem das mulheres, insinuantes e muitas vezes inconvenientes. Acham que “não existem mulheres honestas, apenas mal-cantadas.” Quando se aproximam de alguma “gostosa”, emitem ruídos que são indicativos, ao mesmo tempo, de raiva e desejo. Imitam sons próprios das relações sexuais, aspiram forte o ar entre dentes semi-cerrados. Estando junto com outros homens, dirão, com aquela expressão facial de raiva e tesão e com os punhos cerrados, “olha aquela ‘goxtoosa’!” A insistência deles faz bem à vaidade de muitas mulheres, que acabam aceitando sua abordagem. O resto já é conhecido: falam tudo o que elas querem ouvir até conseguirem levá-las para a cama. Depois disso desaparecem, adoram quando elas correm atrás deles e, sempre que podem, as humilham e rejeitam ao máximo. Nada de muito romântico, a não ser algumas palavras mentirosas ditas para induzi-las ao ato sexual.
Não se satisfazem apenas com isso, de modo que é fundamental contar para os amigos que “eu comi a fulaninha.” Estes homens assim grosseiros costumam ser muito dedicados aos seus amigos. Adoram conversar com eles, passam horas em mesas de bar trocando idéias e conselhos, falando de negócios, futebol e, é claro, de mulheres – sempre com aquela postura de desdém e hostilidade, que não pode ter outra fonte que não a inveja. Que outra razão além da inveja levaria muitos deles a, no carnaval, se vestir como mulheres?
O exemplo oposto é o dos homossexuais masculinos. Estes se dão muito bem e são amigos das mulheres, o que é quase impossível para a maioria dos homens. Não as desejam e não as hostilizam. Muitos não têm nenhuma inveja delas, pois só um pequeno grupo de homossexuais gostaria de ser do sexo feminino – os travestis e aqueles excessivamente efeminados seriam o exemplo deste caso. Os homossexuais masculinos raramente tiveram, durante a infância, problemas com suas mães. Mais freqüentemente se indispuseram com pais violentos e que não compreendiam a maneira mais delicada deles se conduzirem. Muitos foram objeto de chacota por parte dos colegas “machinhos” exatamente por força da mesma forma sensível e pouco agressiva de se comportarem. Crescem e se tornam adolescentes com raiva dos homens que os humilharam. O que acontece? O desejo acompanha a raiva! As práticas sexuais entre os homossexuais são, como regra, promíscuas e nada românticas. Criaturas delicadas e requintadas na forma de viver o cotidiano se deliciam com os contextos eróticos mais grosseiros e sujos que se pode imaginar. Homens sofisticados, artistas ou intelectuais de grande erudição fazem sexo com outros homens em banheiros públicos!
Os machões, que tanto assediam as mulheres, as desejam e as odeiam. São amigos de verdade de outros homens, para os quais confidenciam inclusive suas fraquezas – o que é um importante sinal de desarmamento e confiança. Os homossexuais desejam e odeiam os homens. O relacionamento com eles é tenso e difícil fora do contexto erótico. Para todos os outros fins que não os sexuais parece que preferem a amizade e a companhia das mulheres. Esquisito, não? Manifestem-se, falem de si, das pessoas que vocês conhecem. Dêem suas opiniões. Vamos trabalhar juntos para ver se conseguimos elucidar esta questão importantíssima para que homens e mulheres possam, um dia, vir a se amar e, ao mesmo tempo, se dar bem nas relações sexuais.