Vivemos numa cultura que nos estimula a sentir um grande número de desejos e nos ensina que desejar, e de forma intensa, é uma coisa boa. Será isso verdade? As pessoas portadoras de desejos fortes levam uma vida mais gratificante e são mais felizes?
Flávio Gikovate.
Resposta: Não deixa de ser curioso que tenhamos acreditado nisso. Afinal de contas, estar desejando corresponde a um estado de incompletude, de insatisfação pelo fato de que algo nos falta. Talvez a única exceção seja o desejo sexual, onde a inquietação que ele provoca pode ser sentido como agradável, como algo que provoca a sensação de excitação, um desequilíbrio que é temporariamente agradável. Agora, todos os outros desejos, tanto os de natureza física - fome, sede, frio, etc - como os relacionados com anseios criados pela cultura em que vivemos - desejo de possuir algum bem material, de usufruir de algum tipo de privilégio, de ser famoso, etc - só podem gerar insatisfação, frustração e tristeza. Somos ensinados a desejar porque aprendemos que, ao nos sentirmos frustrados, ganhamos uma força e uma energia extra no sentido de perseguirmos aquilo que queremos muito ter ou ser. Isso pode ativar nossa garra e competitividade, mas gera uma insatisfação muito prolongada, muito maior do que o prazer que experimentaremos quando formos capazes de satisfazer nossa vontade.
O mais grave é que a sociedade está sempre criando novos objetos de desejo, de modo que quando pensamos que temos tudo, algo novo parece essencial à nossa felicidade. Penso que vivem melhor aquelas pessoas que sentem menos desejo. Penso que o próprio desejo sexual não deveria ser estimulado ao máximo e a satisfação desse desejo não deveria ter se transformado em mais um motivo de orgulho e de competição - sendo vencedor aquele que consegue efetivar mais vezes o contato físico capaz de resolver o desejo. Penso mesmo que muito melhor do que ter muitos desejos, e conseguir realizá-los graças a esforços enormes, é não desejar tanto, é se satisfazer com o parceiro sexual que se tem - desde que seja bom, é claro - e com os bens materiais que conseguimos obter sem que tenhamos que nos sacrificar tanto.
O mais grave é que a sociedade está sempre criando novos objetos de desejo, de modo que quando pensamos que temos tudo, algo novo parece essencial à nossa felicidade. Penso que vivem melhor aquelas pessoas que sentem menos desejo. Penso que o próprio desejo sexual não deveria ser estimulado ao máximo e a satisfação desse desejo não deveria ter se transformado em mais um motivo de orgulho e de competição - sendo vencedor aquele que consegue efetivar mais vezes o contato físico capaz de resolver o desejo. Penso mesmo que muito melhor do que ter muitos desejos, e conseguir realizá-los graças a esforços enormes, é não desejar tanto, é se satisfazer com o parceiro sexual que se tem - desde que seja bom, é claro - e com os bens materiais que conseguimos obter sem que tenhamos que nos sacrificar tanto.
Flávio Gikovate.