sábado, 28 de julho de 2012

Extroversão! Não Significa Sensualidade



Flávio Gikovate - Abril/2001
Nesta tentativa de refletir sobre o que torna uma pessoa (em particular, uma mulher) mais atraente para o sexo oposto, registrei na semana passada minha impressão de que os mais ousados aparecem, aos olhos alheios, como mais atraentes e sensuais. Essa ousadia se manifesta por meio de uma maior facilidade para se aproximar, dar sinais de simpatia e interesse, puxar conversa e demonstrar ternura. No caso das mulheres, a ousadia também se mostra no uso de roupas extravagantes e provocativas. Seu comportamento é o de quem está na vida “para o que der e vier”; é como se não respeitassem regras sociais, como se pudessem ter atitudes de que outras pessoas não seriam capazes.
Ao passar essa impressão de exuberância e abertura, tais criaturas exibem uma coragem que a maioria não tem. E isso é algo que os homens captam como próprio de mulheres muito “quentes”. Assim, a mulher extrovertida, ousada, que se veste com roupas que sugerem uma maior liberdade sexual e maior interesse pelo sexo acaba por provocar mais intensamente o desejo dos homens. Isso acontece mesmo quando ela não é muito bonita. A realidade é que a beleza conta menos que a sensualidade, que corresponde – entre tantas outras coisas que desconhecemos – a essa “promessa” de exuberância sexual e de disposição para a aproximação erótica sem grande compromisso sentimental.
É uma pena, mas é grande o número de moças que não têm consciência de seus dotes sensuais. Como regra, foram adolescentes que não se consideravam bonitas e atraentes – o que, como disse, não tem relação direta com a sensualidade. Acabaram com medo de se colocar de modo sedutor, pois os sentimentos de inferioridade lhes davam a impressão de que seriam objeto dos rapazes. Fecharam-se, com medo das pessoas, sobretudo dos homens; encolhem-se diante da aproximação deles, em vez de se abrir. Algumas tentam o sucesso tornando-se simpáticas, boas amigas, “bons papos”; são vistas pelos rapazes como moças legais, mas não como aquelas que lhes provocam desejo – este nasce da possibilidade de intimidades físicas “fáceis”. Não é raro que essas adolescentes se transformem em mulheres bonitas, que só não se tornam atraentes para os homens por serem incapazes de rever suas primeiras impressões da vida adulta. Ou seja, continuam a agir como “patinhos feios”, já se defendendo de supostas rejeições.
A experiência nos ensina também que essas mulheres que gostam de vestir-se provocativamente, sugerindo a possibilidade de uma intimidade sexual fácil e descompromissada, não cumprem o que prometem! Tudo leva a crer que gostam de provocar o desejo masculino pelo simples prazer de se exibir. As mulheres se excitam ao se perceberem atraentes para os homens; para muitas, isso basta.
Por outro lado, fica claro também que nem todas as mulheres acham essa conduta legítima. Prometer algo que não estão dispostas a cumprir parece pouco idôneo para muitas. Essas agem de maneira recatada e, de certo modo, se tornam menos atraentes num primeiro instante. Para os homens, o recato pode erroneamente significar que sejam criaturas menos interessadas em sexo. Na realidade, são pessoas que não acham justo provocar. São mulheres mais preocupadas com o outro. Como regra, são aquelas mais sexualmente exuberantes quando se dispõem a isso para valer.
É bom que se saiba que as mais extrovertidas e que provocam os homens são, normalmente, mais travadas e inibidas na “hora H”. Talvez tenham justamente desenvolvido a coragem e o prazer de se exibir por serem mais reprimidas e fechadas para o sexo propriamente dito. São, portanto, apenas superficialmente mais ousadas. Nesse caso, como em tantos outros, as aparências enganam. Voltaremos a este assunto na próxima semana.

sábado, 21 de julho de 2012

Como Erotizar a Vida de Casado


 
Flávio Gikovate - Janeiro/2001
 
 
Quando se casam, as pessoas mudam sua relação com o mundo. Antes, interagiam com várias pessoas – pais, familiares e amigos; depois, passam a “viver um para o outro”. A dependência cresce e aumentam as cobranças e as expectativas. Com elas, multiplicam-se as decepções, porque ninguém é capaz de resolver todos os nossos sonhos. Muitas das brigas e tensões conjugais surgem do desapontamento. O erro está na crença de que a salvação deverá vir do outro (e ele é apenas mais um mortal tentando sobreviver).
Pessoas com maior consciência de sua individualidade tendem a construir elos afetivos de melhor qualidade. Por serem mais independentes, esperam menos dos demais. E, em geral, conseguem manter a vida sexual no mesmo nível de freqüência e de satisfação que experimentaram no namoro.
O fato do cônjuge ser outra pessoa e não uma parte de nós faz com que o desejemos mais. Platão já disse, há 25 séculos, que não se pode desejar o que se possui. Talvez por isso o ciúme funcione como estimulante sexual: a ameaça da perda fortalece a idéia de que o parceiro nos pertence.
O erotismo resulta de uma atmosfera impregnada de sensualidade. Devemos deixar claro que o clima erótico não é o romântico. Amor e sexo são coisas diferentes e merecem ser estimuladas separadamente se quisermos obter uma intensidade maior das duas. Para criar a atmosfera romântica, os casais deveriam passear de mãos dadas em belos bosques, andar por ruelas antigas e singelas, jantar à luz de velas e ouvir música clássica. Nesse tipo de programa, surgem a ternura e a vontade de dormir abraçadinhos. Já um ambiente praiano, onde as pessoas se exercitam, tomam sol, banham seus corpos suados no mar e ouvem canções que sugerem danças ritmadas é altamente estimulante para a nossa sexualidade.
O cotidiano da maioria dos casais não é nem romântico nem erótico. Por isso, as pessoas tendem a buscar atividades mais prazerosas fora do casamento. Acredito que nada disso é necessário. A mulher casada não precisa se descuidar, nem o homem tem de engordar. Ele pode, sem prejuízo das finanças, lembrar que a mulher gosta muito de um determinado cantor e chegar em casa com o novo CD dele. Ou preparar o prato predileto dela. Ela pode levar o café na cama para os dois no domingo e por lá ficar!
As situações eróticas devem se alternar com as românticas e, assim, ocupar um espaço respeitável no cotidiano dos casais, roubando tempo das cobranças e brigas. Mas, para isso, é essencial entender que a ternura e o erotismo não se estabelecem apenas porque duas pessoas se amam. O parceiro fixo precisa buscar uma renovação constante, tanto nos detalhes de sua postura e de sua aparência quanto na invenção de cenários e de figurinos interessantes. Podemos construir a vida cotidiana sobre dependências e decepções ou sobre o desejo de agradar e surpreender o amado.
Do ponto de vista sexual, tudo o que é novo provoca impacto imenso. Tudo o que for feito para enriquecer a vida romântica e erótica será sempre bem-vindo. Não creio que seja necessário detalhar mais. Seria subestimar a intuição e o poder criativo dos leitores

domingo, 15 de julho de 2012

Adultério no Velho Testamento

Este artigo foi tirado do nosso livroSex and Scripture: A Biblical Study of Proper Sexual Behavior (Inglês)”.]


A palavra grega usada no Novo Testamento para “adúltero” é moichos (“adultério” é mocheia) e refere-se a alguém que está casado mas tem relações sexuais com alguém que não é o seu cônjuge.
No Antigo Testamento, e no mundo secular grego como no romano, a definição de adultério era diferente. No Antigo Testamento, "adultério" referia-se concretamente a uma mulher casada ou comprometida que tinha relações sexuais com alguém diferente do seu esposo. O conceito grego, romano e hebreu do adultério era substancialmente o mesmo: "A infidelidade do marido não constituía adultério."
James Hastings escreve:
Para sermos mais específicos, na legislação Israelita como também na romana, o termo [adultério] estava circunscrito a sexo ilícito de uma mulher casada ou comprometida com qualquer outro homem que não fosse o seu esposo. Desaprovava-se também outras relações impudicas, mas essas foram descritas com palavras diferentes.
William Smith agrega:
As partes intervenientes neste delito [adultério] eram uma mulher casada e um homem que não era o seu marido. De facto, a poligamia era tolerada, pelo que era quase impossível considerar crime uma ofensa similar cometida por um homem casado com uma mulher que não era sua esposa.
Alguns teólogos dizem que como Deus criou Adão e Eva um para o outro, estava implícito na Lei que o adultério era o mesmo tanto no Novo Testamento como no Antigo Testamento. Embora não haja nenhuma dúvida de que Deus originalmente desenhou o matrimónio para ser uma relação de dois, também não há duvida nenhuma de que a poligamia começou cedo, apenas sete gerações depois de Adão (Gn. 4:19), e foi regulamentada na Lei Mosaica (Êx. 21:10; Lv. 18:18; Dt. 21:15). É bem conhecido que as 12 tribos de Israel existem porque Jacob teve duas esposas e duas concubinas, e teve filhos com todas elas. Muitos "grandes nomes" do Antigo Testamento tiveram múltiplas esposas e concubinas, e fizeram isto sem desobedecer ao mandamento de Deus. Mas este simplesmente não é o caso na era cristã.
Deus não explica por que Ele regulamentou a possibilidade de ter múltiplas esposas no Antigo Testamento. Obviamente não era Seu plano original para o matrimónio, porque Ele estabeleceu que "dois" "se tornarão uma só carne". A necessidade de se relacionar e de “se sentir especial" é fundamental em qualquer relação matrimonial, e isto salienta-se poderosamente no Cântico dos Cânticos, escrito por Salomão. É difícil imaginar que uma mulher possa compartilhar o afecto do "amor da sua vida" (Ct. 3:1-5) com outra mulher. Além disso, a poligamia nunca teve muito bons resultados. Nas escrituras não existem "trios felizmente casados". É bem conhecida a tensão existente entre Raquel e Lia, e em 1 Samuel 1:6, Penina é chamada a "rival" de Ana. O pictograma chinês para "briga" é o símbolo de duas mulheres debaixo do mesmo telhado, e as intrigas e lutas internas nos haréns são lendárias.
Foi sugerido que, ao permitir a poligamia, Deus estava a fazer concessões à cultura, mas esta explicação não é satisfatória. Ele não fez concessões quanto à comida, à adoração, à higiene, aos delitos, à autoridade da liderança ou em outras áreas do comportamento sexual tais como o adultério, o matrimónio entre parentes, a prostituição, a homossexualidade, etc., de tal modo que a ideia de que Ele "cedeu" perante o tema das múltiplas esposas seguramente não está correcto. A melhor explicação que a nosso entender se tem postulado é a de que a poligamia deu à mulher uma maneira de entrar num grupo familiar com o poder e influência necessárias para manter-se e proteger-se a si mesma e às suas crianças.
Na actualidade, o ponto central é o seguinte: o Novo Testamento ordena especificamente que cada homem e cada mulher tenham o seu "próprio" cônjuge e, por tanto, a definição de adultério no Novo Testamento é mais estreita do que a definição no Antigo Testamento já que se incluí toda pessoa casada que tem relações sexuais com alguém diferente do seu cônjuge. O mundo e as suas forças malignas querem atenuar o mal intrínseco que habita no adultério, e assim que chamam-lhe "aventura", "engano" ou "indiscrição", como se não fosse algo de grave. Mas é realmente de grave e Deus sempre ordenou ao seu povo com grande firmeza que não cometesse adultério. Os versículos que o proíbem estão no Antigo Testamento (Êxodo 20:14, etc.), nos evangelhos (Marcos 10:19, etc.) e nas epístolas pastorais (Romano 13:9, etc.).
O adultério é um pecado muito mais sério do que o sexo pré-marital porque há pactos, compromissos, promessas e expectativas envolvidas. Um pacto matrimonial é um assunto muito sério aos olhos de Deus. Não levar em conta os pactos celebrados perante os homens e perante Deus e destruir o desígnio de Deus de "uma só carne" quando "homem e mulher os criou" é um pecado muito grave, pecado que com frequência leva à destruição da família e que no Antigo Testamento foi castigado com a pena de morte (Lv.20: 10,11; Dt. 22:22). Os casados deveriam levar muito seriamente as palavras da Escritura concernentes ao adultério: " O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal, conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros. (Hebreus 13:4)."
O adultério era considerado claramente como um pecado, e por isso era o exemplo perfeito e "tangível" do frequentemente menos tangível pecado de idolatria. Por essa razão, no Antigo Testamento, palavras como "adultério", "imoralidade sexual", "prostituta" e "infidelidade", podem ter um significado literal ou um significado espiritual. O adultério ocorria quando uma mulher era infiel a seu marido e violava o pacto matrimonial. Quando Deus desejava comunicar a penosa natureza do pecado de idolatria, descreveu-o como adultério, e a Israel como uma esposa adúltera ou uma prostituta. Também, Israel tinha feito pactos e compromissos com Deus e tinha prometido que obedeceria aos Seus mandamentos (Êxodo 24:7; Deuteronômio 5:27; Josué 24:14-25) e esses pactos foram violados quando Israel adorou a outros deuses.
Existe outra razão pela qual "adultério" era uma boa palavra para descrever a adoração a deuses pagãos: muito da adoração pagã incluía sexo. Isto vê-se no inicio da Bíblia quando Israel estava no Sinai e construiu o bezerro de ouro, um deus egípcio da fertilidade, e então “levantaram-se para se divertirem”, uma referência aos actos sexuais envolvidos na adoração daquele deus pagão (Êxodo 32:6 OL). A conexão entre adultério e fornicação, e a adoração pagã, fornece interessantes duplos significados na Bíblia. Por exemplo, em Jeremias 13:27, Deus disse a Israel que tinha visto "seus adultérios, os seus relinchos, a sua prostituição desavergonhada, sobre as colinas e nos campos", e o contexto torna claro indubitavelmente que está a falar tanto de adultério espiritual como de adultério físico.
Há pessoas (que geralmente estão envolvidas no adultério e tentam justificá-lo) que dizem que o adultério na Bíblia é sempre adultério espiritual, mas essa afirmação torna-se falsa apenas pela leitura de algumas escrituras. Por exemplo, Levítico 20:10 diz: "Se um homem cometer adultério com a mulher de outro homem...", o qual é uma indicação clara de que o adultério era a relação física entre um homem e uma mulher. Existem outros versículos semelhantes. A introdução ao Salmo 51:1 fala do adultério de David e Bate-Seba. Jeremias 29:23 menciona que o povo Judeu cometeu adultério com as mulheres do seu próximo e, claro que, há o bem conhecido registo da mulher que foi surpreendida no mesmo acto de adultério e levada ante Jesus. O adultério é um pecado grave aos olhos de Deus e os cristãos devem ser honestos acerca disto e ter a certeza de que as suas vidas são puras aos olhos de Deus.
(Tradução Daniel De Oliveira)

sábado, 7 de julho de 2012

Qual a Origem da Amizade ?



Flávio Gikovate - Agosto/2000


 
 
Venho ensaiando escrever sobre a amizade há pelo menos vinte anos, sem coragem de dar seguimento a esse antigo projeto. Percebi que se trata da mais bem-sucedida forma de interação entre as pessoas, de uma fonte de prazeres e alegrias enormes e geradora de tensões e elementos negativos mínimos.
A primeira questão – e, talvez, a mais importante – está relacionada à seguinte dúvida: seria a amizade uma versão adulta e sofisticada do amor, ou um fenômeno inteiramente diferente?
Como regra, achamos interessantes aquelas pessoas que desenvolvem maneiras de ser e de racionar sobre todos os assuntos similares às nossas em muitos aspectos. Não só achamos graça como nos sentimos muito próximos delas. Aqui, a sensação de integração não se origina de um processo físico, como acontece no amor – ou mesmo na integração com a pátria ou com o universo. Ela deriva de uma intimidade intelectual, de afinidades na maneira de pensar e de sentir a vida.
Nas amizades, a ponte que permite que duas criaturas individuais e solitárias se sintam integradas surge graças à facilidade com que elas se comunicam. É extraordinário o prazer que sentimos quando temos a impressão de que aquilo que o outro está entendendo corresponde exatamente ao que estamos dizendo. Temos a impressão de não estarmos sós neste mundo. O prazer que experimentamos ao conversar com nossos amigos – definidos assim de modo rigoroso, sem nada a ver com os diversos conhecidos que temos – é enorme; não raramente maior do que o que sentimos ao conversar com nossos parentes e com o nosso objeto de amor que, como disse, corresponde a uma escolha mais relacionada com outros processos.
Como as amizades referem-se a processos essencialmente adultos, não são contaminadas, a não ser de modo muito superficial, pelas penosas emoções possessivas e ciumentas. Podemos ter mais de um amigo íntimo. Gostar de um não significa deixar de gostar do outro. O respeito pelos direitos individuais e pelo modo de ser do amigo é a tônica. A inveja, quando existe, está sob controle, pois, mais do que tudo, queremos que nossos amigos prosperem; não tememos que isso nos afaste deles, como costuma acontecer nas relações amorosas, em que o progresso do amado é sempre uma enorme ameaça à estabilidade da relação.
A amizade é fenômeno essencialmente intelectual. Pode perfeitamente existir entre pessoas que não tenham interesse sexual um pelo outro. Ela é até mesmo mais comum entre pessoas do mesmo sexo, em que as afinidades mentais, talvez, sejam mais comuns. Agora, por puro preconceito, mesmo nos tempos atuais, em que o erotismo tende a se expressar de modo mais livre, não pensamos em intimidades sexuais entre amigos. Da mesma forma, é fácil imaginar que as relações que se iniciam como amizade podem evoluir para um namoro ou mesmo para um casamento. A idéia de que o amor é coisa muito mais rica do que a amizade é, a meu ver, antiga. Afinidades intelectuais e semelhanças de gostos e interesses terão de ser parte essencial de todos os relacionamentos mais íntimos.